Oiêeee ...
Faz tempo que não mexo no meu HD para organizar os arquivos ... ontem resolvi fazer um backup e, me deparei com uma pasta cheia de artigos por mim produzidos ... tantas coisas que nem me lembrava!!!!
Confesso que, a época do mestrado, lá pelos idos de 2010-2012 foram tempos de intensa produção acadêmica ... e, foi ali que este blog começou ... Resolvi trazer de volta estes escritos e, de tempos em tempos irei reproduzir os mesmos aqui ... Acompanhem!!!!
Hoje posto um artigo que resume a minha dissertação nas suas partes mais importantes!!!
Se você quer entender porque "Fuxicando com Milla", se joga nas letras abaixo!!
Se você quer entender porque "Fuxicando com Milla", se joga nas letras abaixo!!
Olha aí ...
AGULHA, LINHA E TECIDO: os primeiros elementos
do fuxico
O trabalho a
seguir reveste-se de uma relevância ímpar por ser fruto da dissertação de
mestrado apresentada ao Programa de Pós graduação em Educação e
Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia. A pesquisa ora referida buscou
articular metaforicamente a relação entre inibição da aprendizagem e fuxico
arte de uma maneira bastante singular. As letras aqui apresentadas são um
recorte do volume dissertativo e visam contribuir para a educação contemporânea
através da avaliação dos debates atuais no campo da educação por meio de
proposições em torno da temática dificuldade
de aprendizagem. As concepções teórico-epistemológicas são apresentadas
principalmente sob a égide da educação, psicologia e psicanálise. O foco
terminológico se dá na “inibição no ato
de aprender” com vistas à possibilidade de ampliação dos estudos de tal
fenômeno, por compreendê-lo como aquele o qual dá possibilidade de entendimento
com relação a uma função, não tendo necessariamente, uma implicação patológica
o que também demonstra assim o seu caráter transitório. Considerando que a
inibição é a demanda que ocorre unicamente na dimensão do eu, e se expressa como
uma limitação funcional tratei no estudo, acerca da inibição do saber e tive
como questão de pesquisa avaliar de que maneira o professor lida com os afetos
prazerosos/desprazerosos que envolvem a relação com o aluno no processo de
inibição no ato de aprender. O objetivo geral do estudo foi analisar os
processos constitutivos do aluno com inibição no ato de aprender com vistas a
encontrar alternativas que emerjam no aluno o desejo aprendente. Trata-se de um
estudo qualitativo, os instrumentos selecionados para coleta foram: observação,
entrevista narrativa e narrativa imagética e, a análise dos dados teve por base
a análise do discurso de vertente francesa. Os sujeitos em número de seis foram
selecionados pelo critério do desejo acerca do locus optou-se por uma escola da rede municipal da cidade de
Salvador. Os achados da pesquisa estão representados pelas falas e expressam-se
nas (in)conclusões fazendo-nos pensar que essa inibição é premente de ser
escutada para que o aluno encontre na sala de aula seu lugar para aprender.
INICIANDO A PEÇA DE FUXICO[1]
Frente ao
fato das letras aqui exibidas serem fruto de um recorte da dissertação de
mestrado apresentada ao Programa de Pós graduação em Educação e
Contemporaneidade - PPGEduC sediado na Universidade do Estado da Bahia –UNEB faz-se
premente desvelar que a pesquisa aqui mencionada aconteceu tendo como locus uma escola pública situada num
bairro central da cidade de Salvador e o delineamento do objeto de estudo se
deu a partir da demanda enquanto psicóloga na Secretaria Municipal de Educação
desta cidade pelo fato de sempre ser convocada para dar conta de inibição no
ato de aprender de alunos do ensino fundamental.
Diferentemente do
utilizado no senso comum neste trabalho o foco terminológico se dá na “inibição no ato de aprender” com vistas
à possibilidade de ampliação dos estudos de tal fenômeno, pois o compreendo
como aquele que dá possibilidade de entendimento com relação a uma função, não
tendo necessariamente, uma implicação patológica o que também o faz
transitório. A inibição é a demanda que ocorre, unicamente, na dimensão do eu e
se expressa como uma limitação funcional, neste caso, trato da inibição do
saber.
A pedagogia
articulada com a psicanálise tem sido uma via de entrada do desejo no campo da
educação para tratar o sintoma, que se manifesta no sujeito através da inibição
no ato de aprender e deste modo sabe-se que, para haver aprendizado, é preciso
haver desejo e este apenas se coloca quando, no processo de estruturação
psíquica da criança, ocorre a intervenção da Lei paterna. Estas dimensões se
articulam através da dialética que se estabelece entre princípio do prazer e da
realidade, configurando-se assim a dialética da autonomia e da heteronomia.
Uma avaliação
dos debates atuais no campo da educação é suficiente para perceber um contíguo
de proposições em torno da temática dificuldade
de aprendizagem e, na tentativa de explicação destas sucedem-se novas
concepções teórico-epistemológicas principalmente nas áreas de educação,
psicologia e psicanálise. Diante de tais fatos estabeleço metaforicamente a
relação da inibição da aprendizagem com o fuxico arte.
O fuxico o
qual trabalho no espaço da pesquisa acadêmica é aquele que diz respeito à arte,
a construção, ao movimento, a diferença. Penso no fuxico enquanto arte sendo o
aluno “com” inibição no ato de aprender aquele retalho de pano que é
subaproveitado, retirado da peça de tecido principal por não servir mais e, ao
causar inquietação no que diz respeito ao que fazer dele o mesmo é entregue
para que um outro possa dar um
destino àquelas tiras irregulares, fora de padrão. Diante de tal exposição
refiro que a metáfora do fuxico e sua
conexão com a inibição no ato de aprender é a minha tentativa de contribuição
com a proposta de interface entre psicanálise e educação.
OS PASSOS DA CONSTRUÇÃO DA PEÇA MULTICOLORIDA
Semelhante ao
que acontece na confecção da peça artesanal “fuxico” os capítulos da dissertação
foram divididos em passos. Em cada um deles foi descrito um momento da pesquisa
e a seguir os mesmos são revelados.
O primeiro
passo do fuxico se
refere à construção do molde para que os retalhos sejam recortados no formato
redondo este foi referido na pesquisa e nomeado de Introdução de modo que antecipou o panorama a ser tratado no
escrito na interface com a história acadêmica pessoal da autora e do processo
introdutório do aprender.
O segundo
passo do fuxico é a
transposição do molde para o tecido e logo após o recorte do círculo, este
capítulo nomeado Educação contemporâneareferiu
acerca da avaliação dos debates atuais no campo da educação e trouxe a educação
contemporânea de um modo mais generalizado; ainda é referindo sobre o cenário
desta educação contemporânea e trazendo algumas problematizações que visaram à
ampliação do olhar e a articulação com teorias que sustentam uma nova
perspectiva do aluno; o atravessamento da psicanálise na educação emergindo
como um novo estilo, perpassando pela importância da escuta analítica à
educação contemporânea. Em seguida, foi apresentado ainda neste capítulo a
descrição e discussão do panorama da educação, onde se apresentou
esclarecimentos etimológicos sobre dificuldade, fracasso e inibição e ainda
questões sobre o atravessamento da educação pela psicanálise, de forma a marcar
a escuta como uma contribuição psicanalítica à leitura do fenômeno intitulado
de inibição no ato de aprender.
O terceiro
passo do fuxico é o
alinhavo, discorreu-se neste capítulo denominado Constituição do sujeito da aprendizagem e inibição no ato de aprender,acerca
da relação da constituição do sujeito na aprendizagem e a inibição no ato de
aprender, metaforicamente também fazendo alusão ao alinhavo borromeico[2]
no que tange o papel da família nesta estruturação, e como o professor se
estrutura na relação com a inibição no ato de aprender.
No quarto
passo do fuxico
temos que puxar o alinhavo delicadamente para que o franzido se forme e
efetivamente a unidade se constitua. Neste capítulo nomeado Fuxico por fuxico numa estampa singular
tratou-se da metodologia, da escolha dos instrumentos, dos marcos teóricos, do locus, dos sujeitos e da análise dos
dados de maneira que foi referido o escopo do que está presente como elemento
fundante na investigação que forma esta peça final de fuxicos apresentada como
uma dissertação de mestrado.
No quinto
passo do fuxico após
as unidades construídas fazemos a junção através do alinhavo final para dar
forma à colcha de retalhos. Neste capítulo intitulado de Juntando os Fuxicos foram apresentadas considerações finais com um
amalgamar da teoria usada e dos dados colhidos deixando em aberto alguns pontos
que serão certamente alvo da continuidade dos estudos nesta metáfora tão
singular.
ALGUNS
DITOS SOBRE A CONTEMPORANEIDADE
É no campo de concepções
conceituais, cognitivas, afetivas e sociais que encontra-se o professor
contemporâneo. Este por vezes marca o aluno como possuidor de “dificuldade de
aprendizagem” denunciando aparentemente, sem saber, sua incapacidade de lidar
com a diferença, com a sua idiossincrasia, cristalizando uma inscrição que
poderá no individual fazer signo com o significante,[3] instaurando uma situação
de ordem simbólica que não temos como mensurar a forma com a qual a mesma pode
atingir o sujeito nos seus processos inconscientes. Concordo desta maneira com
Cohen (2009) quando a autora diz:
É impossível
precisar uma única causa do fracasso escolar, generalizá-la e dizer se é falsa
ou verdadeira. Desta forma, não sendo possível localizar a verdade sobre o que
gera essa problemática, faz-se uma aposta, uma escolha. A etiologia do fracasso
escolar é indecidível, porque sempre fará parte de uma determinada contingência
educacional, ou seja, não há uma verdade calculável, que possa dizer sobre as
suas manifestações para todos. (COHEN, 2009, p. 74)
A autora neste fragmento
refere sobre a impossibilidade de precisar uma causa para o fracasso escolar e
diante disso corroboro afirmando que não devemos pensar na inibição no ato de
aprender de modo hedonista numa tentativa de buscar uma causalidade, pois tal
inibição é multifatorial. Vale neste momento abrir um adendo para tentar
esclarecer sobre questões referentes às nomenclaturas acerca da aprendizagem.
De modo geral a utilização pela escola do termo “dificuldade de aprendizagem”
traz nas entrelinhas o viés no qual nesta terminologia estão inseridas questões
de ordem orgânica e de ordem simbólica, sendo as mesmas temporárias ou não.
Como afirma Fernández (1991, p. 74) “a linguagem, o gesto e os afetos agem como
significados ou como significantes, com os quais o sujeito pode dizer como
sente seu mundo”. Consideremos que são as questões do nível simbólico que
organizam a vida afetiva, cognitiva e social.
Em se tratando de “fracasso escolar” - outro
termo, bastante utilizado no meio escolar - percebemos neste, uma rotulação do
sujeito e uma carga semântica a qual traz uma situação de ordem simbólica que
pode ultrapassar a dimensão apenas escolar, sendo este significante - fracasso
- transposto, muitas vezes, para outros espaços da vida do sujeito. A saber, fracasso (FERREIRA, 1977, p. 228)
refere-se ao substantivo masculino sinônimo de “mau êxito, malogro, ruína”
sendo ele um termo carregado de preconceitos. Vou tratar do avesso dessa
assertiva trazida pelo autor conforme vem sendo posto.
Estas observações
semânticas tornam-se base e fundamento do que desejo dizer, de modo que com
tais expressões complexas o estudo das mesmas me leva a utilizar a terminologia
“inibição no ato de aprender”, com
vistas à possibilidade de ampliação dos estudos de tal fenômeno, pois
compreendo o construto inibição como aquele que dá possibilidade de
entendimento com relação a uma função, não tendo necessariamente uma implicação
patológica, o que também o faz transitório. A inibição é a demanda que ocorre,
unicamente, na dimensão do eu e se expressa como uma limitação funcional, neste
caso trato da inibição do saber.
Sobre o termo ‘inibição’
Laplanche & Pontalis (2008, p. 240) nos trazem que inibido(a) “qualifica
uma pulsão que sob o efeito de obstáculos externos ou internos, não atinge seu
modo direto de satisfação podendo ser aproximações mais ou menos longínquas da
meta primitiva”. Ou seja, tratar de inibição é trazer a possibilidade de um
passe que qualificaria o deslocamento sintomático considerando que a
Psicanálise não trabalha com a concepção de cura. Conforme descreve Cohen
(2009):
[...]verificamos
que a psicanálise se vê convocada a dizer algo sobre os sintomas que aparecem
nas escolas e que atingem crianças e adolescentes na contemporaneidade. Esse
esforço diz respeito a uma proposta de atuar no social, no mundo, desafiando os
psicanalistas para além das fronteiras de seus consultórios (COHEN, 2009, p.
13)
E nesta pesquisa isso
mostrou-se importante de ser abordado, visto que a demanda da escola à
psicanálise, na figura do psicanalista ou psicólogo, é uma demanda de solução
na qual diante dos marcos fundantes postulados desde Freud(1856-1939) e
retomados por Lacan(1901-1981) na sua obra denota que a psicanálise é contrária
a qualquer tentativa de aprisionamento em modelos predeterminados. O sujeito é
o cerne do trabalho e seu desejo é respeitado, pois até o seu ‘não saber’ diz
algo de si e a ideia trazida pela educação quanto à padronização e
homogeneização faz com que tenhamos não mais o olhar sobre a beleza da arte de
fuxicos, pelas suas diferentes estampagens, mas direciona um olhar apenas para
aquela peça de tecido principal e nobre muitas vezes despida de qualquer
criatividade, fabricada em série para atender o mercado de consumo. Deste modo,
reitero que o problema de pesquisa visou responder a questão em torno de que
maneira o professor lida com os afetos prazerosos/desprazerosos que envolvem a
relação com o aluno no processo de inibição no ato de aprender.
A visão mais conservadora
acerca da instituição escolar considera que, a mesma, tem como função preparar
a criança para ingressar na sociedade, promovendo as aprendizagens reconhecidas
como fundantes para o grupo social ao qual esse sujeito pertence. Nascimento
(2006, p.51 e 52) sobre isso comenta que [...] “nas trilhas abertas pelas
mudanças implementadas pela modernidade, foram concebidos muitos processos e
meios de transmissão social do conhecimento”. No entanto, a escola foi o mais
importante deles.
De uma maneira geral,
corroborando tais teorias contemporâneas, o papel de representação do contexto
social admitido pela escola é demonstrado ao eleger o universo cultural da
classe dominante como modelo de instrução. Assim, o mesmo autor fala sobre a
escola assumir como função principal preparar os sujeitos “para inserção na
sociedade, entendida como mercado de trabalho” (Ibid, p.52) de maneira que por vezes a educação na
contemporaneidade mais se aproxime da ideia de modelagem dos educandos.
EDUCAÇÃO
CONTEMPORÂNEA E SEU ATRAVESSAMENTO PELA PSICANÁLISE
A pedagogia articulada
com a psicanálise tem sido uma via de entrada do desejo no campo da educação
para tratar o sintoma, que se manifesta no sujeito através da inibição no ato
de aprender. Neste sentido, cabe referir sobre o que se pode acessar no que
tange o atual estado da arte da construção teórica sobre as possíveis
articulações entre psicanálise e educação. A opção desta perspectiva de
educação atravessada pela psicanálise permite que o olhar lançado à inibição no
ato de aprender, seja o olhar sobre o aluno-sujeito, pois de acordo com os
estudos de Fernández (1991):
A maioria dos
problemas de aprendizagem tem a ver com a instalação do registro simbólico.
Diríamos, seguindo a terminologia de Lacan, que tem sua base em uma dificuldade
da passagem do segundo ao terceiro tempo de Édipo, neste momento em que o pai
deve transformar-se de “pai-terrível” que é Lei, Norma e Saber, em
representante da lei, da norma e do saber. (FERNÁNDEZ, 1991, p. 27)
Ou seja, o não aprender,
por vezes, pode ser uma resposta de aprendizagem, em virtude de estar à criança
em certa posição de sua dinâmica de subjetivação, a qual só lhe permite dar
conta da demanda de aprendizagem, da forma sintomática ou ser ainda o sintoma
de uma demanda imperiosa de aprendizagem, na qual a criança apresenta a pulsão
de saber interditada para se opor a exigência do Outro[4] como o “nada saber”. Na metáfora do fuxico a criança então passa
a ocupar outro lugar considerando tal a plasticidade das “formas irregulares”
constituídas a partir de retalhos.
O fato de, o professor,
oportunizar-se a outros estilos, fará com que o (des)compasso possa ser
redimensionado e a proposta de uma (re)significação sobre a inibição no ato de
aprender possa ser efetivada. Transformar fuxicos isolados em uma peça única
requer criatividade e desejo de que a teia, de retalhos redondos, faça outro
sentido.
Freud (1913), nos seus
escritos sobre a neurose nos dá a contribuição referindo:
[...] A
Psicanálise tem frequentes oportunidades de observar o papel desempenhado pela
severidade inoportuna e sem discernimento da educação na produção de neuroses,
ou o preço, em perda de eficiência e capacidade de prazer, que tem de ser pago
pela normalidade na qual o educador insiste [...] Tudo que podemos esperar a
título de profilaxia das neuroses no indivíduo se encontra nas mãos de uma
educação psicanaliticamente esclarecida[5]. (FREUD, 1913, p. 191)
Torna-se assim, premente
que o professor que faça parte da equipe institucional da escola, aqui
proposta, reveja seu posicionamento frente inibição no ato de aprender,
verificando se o aluno não está na escola apenas ocupando o lugar de fuxico, de
um retalho inoportuno que atrapalha a ordem da escola. Ou ainda, ocupando
apenas o lugar de aluno-objeto, aquele que repete o que lhe é ensinado, incapaz
de produzir uma resposta própria de aprendizagem que é necessária e de
fundamental importância para que este sujeito de posse dos seus atos e daqueles
manejados pelo professor mostre ser um sujeito que cria e recria com
conhecimento já que a inibição no ato de aprender seria um falso conhecimento
que está impedindo o saber.
Esta modalidade de ato
que discorre sobre a possibilidade de interface entre a psicanálise e a
educação traz como principal contribuição o fato de oferecer possibilidades de
descoberta de novos elementos de explicação para a inibição no ato de aprender
que ultrapassam a dimensão sociológica ou sócio-política do fenômeno, posto que
para entender como uma criança aprende ou não aprende, é necessário não apenas
conhecer como opera sua estrutura lógica (a inteligência), mas também o seu
simbólico. Afinal, as diferentes formas de inibição no ato de aprender, no
registro individual, são respostas possíveis do aprendente às demandas da aprendizagem. Ou seja, o sintoma escolar
pode ser uma das formas que o aluno apresenta como tentativa de sustentar-se na
posição de sujeito quando se sente ameaçado pelas pressões do meio ambiente,
conforme nos coloca Soares (2004).
Torna-se, desta maneira,
necessário ampliar o olhar sobre o não-aprender entendendo que, por vezes, ele
pode ser uma resposta de aprendizagem, em virtude de estar à criança em certa
posição de sua dinâmica de subjetivação, a qual só lhe permite dar conta da
demanda de aprendizagem, da forma sintomática. E a escuta pode ser um
instrumento importante neste passe. Ornellas (2009) fala disso marcando ser
preciso escutar o ambiente transferencial de sala de aula, lugar no qual
acontece o ato educativo. É nesse ambiente que ocorre a escuta da relação
professor-aluno, vista como um campo de condutas humanas. (ORNELLAS, 2009,
p.55)
Nesta perspectiva, o ato de escutar concebe a
subjetividade como constituída através dos vínculos estabelecidos com o outro,
enfatizando os componentes internos, subjetivos e intrapsíquicos do aprendente que, neste caso, é o sujeito
da aprendizagem que se encontra em “processo de construção do conhecimento”.
O termo ‘inibição’ foi
inaugurado por Freud em 1926 [1925], no texto intitulado Inibição, Sintoma e
Ansiedade. Nele, o fundador da Psicanálise abandona a teoria inicial da ligação
direta da angústia sendo originada da libido e a (re)significa como sendo uma
reação a uma situação traumática. Neste texto, Freud salienta a importância da
distinção entre sintomas e inibições considerando a segunda uma restrição de
uma função do ego não necessariamente, patológica. O termo inibição pode ser
considerado neste sentido uma intrusão no campo do simbólico e fazendo uma
articulação do triádico[6] Inibição, Sintoma e
Ansiedade (angústia) com a tópica Lacaniana do Real, Simbólico e Imaginário
percebemos que as questões da aprendizagem podem ser consideradas como um
sintoma no imaginário, apresentando também duas outras vertentes: simbólica e
real, o que de acordo com Mrech (2003, p. 59) revela que “há algo além da
relação professor-aluno de ordem especular”. Assim, a mesma autora traz o fato
que há algo além dos fenômenos da aprendizagem pertencentes ao registro do
imaginário e simbólico e que há também questões da inibição da aprendizagem
concebidas a partir do registro do real.
Abaixo, trago as
configurações estudadas que permitiram a articulação da tópica lacaniana com o triádico freudiano.
O estudo das articulações
topológicas auxilia no fato de estarmos na contemporaneidade enquanto
cientistas sociais e educadores convocados a reinventar soluções para os pontos
de impasse vivenciados, sobre o qual o psicanalista Melman (2003) assim
expressa:
Estamos no ponto
de passagem de uma cultura cuja religião obrigava aos seguidores o recalque dos
desejos e a neurose para uma outra em que se propaga o direito de sua livre
expressão e de uma plena satisfação. (MELMAN, 2003, p. 191)
A família e a escola
deste modo são instituições sociais que estão submetidas, hoje, aos efeitos de
uma mutação cultural que implica na desconsideração crescente dos valores que,
até então, vinham sendo transmitidos pela tradição moral e política, o pensar
sobre este fenômeno expressa o apreço pelo fato de ser através de múltiplas
interações culturais e da constituição de um sistema de relações no espaço da
família, que a criança se constitui, enquanto pessoa, inserida na complexidade
da vida social. Desta forma, a função da família parece ser condição de
sustentação para o crescimento do sujeito enquanto tal, para que este tenha
apoio afetivo suficiente para crescer tolerante a frustrações, constituindo-se,
assim, em um sujeito desejante, integrado e autônomo, capaz de aprender.
Semelhante ao
artesão, o pesquisador precisa organizar-se para apreender a arte fuxico. Nesta pesquisa optei pela
abordagem qualitativa devido ao fato da natureza do fenômeno que proponho
estudar não ser adequada às medidas quantitativas. A escolha dos instrumentos
de coleta de dados vislumbra a intenção da escolha de métodos que propiciem a
apreensão dos dados acerca do objeto estudado. Assim, neste estudo optou-se por
utilizar a observação, a entrevista
narrativa e a narrativa imagética considerando que estes três
interconectados propiciariam a colheita de dados de maneira sistematizada e,
dariam forma aos passos fuxicos na construção da peça. O material coletado
neste estudo através das observações, entrevistas e narrativas imagéticas
passou pelo processo de escuta, degravação e, sua análise foi realizada com o
uso da Análise do Discurso (AD) de vertente francesa. Os sujeitos da pesquisa
foram selecionados com base no critério de serem professores do segmento de
Fundamental I e também do critério de desejo de participação. Os sujeitos desta
pesquisa, a partir da análise dos formulários, podem assim ser descritos de
maneira sistematizada:
Código do Participante
|
Idade
|
Estado Civil
|
Etnia
|
Renda
(em Salário Mínimo)
|
Nível de escolaridade
|
CH
|
Imagem Escolhida
|
Professora 01
|
41 anos
|
Casada
|
Parda[7]
|
Entre 02-05 SM
|
Especialista
|
40
|
01
|
Professora 02
|
43 anos
|
Casada
|
Parda
|
Acima de 10 SM
|
Doutoranda
|
40
|
01
|
Professora 03
|
40 anos
|
Casada
|
Parda
|
Entre 05-10 SM
|
Especialista
|
40
|
03
|
Professora 04
|
39 anos
|
Casada
|
Parda
|
Entre 02-05 SM
|
Especialista
|
40
|
02
|
Professora 05
|
47 anos
|
Separada
|
Preta
|
Entre 02-05 SM
|
Especialista
|
40
|
02
|
Professora 06
|
49 anos
|
Casada
|
Parda
|
Entre 02-05 SM
|
Especialista
|
40
|
02
|
Tabela 1 - Categorização das falas
sujeitos da pesquisa
A organização das observações, narrativas e entrevistas foram
sistematizadas na tabela abaixo de modo a revelar aproximações e
distanciamentos.
CATEGORIA
|
APREENSÃO DO DADO
|
DESCRIÇÃO
|
TRIANGULAÇÃO
|
A
|
OBSERVAÇÃO
|
Dentro-Fora da
sala de aula
|
O entrar e sair da sala de aula
|
B
|
Aluno inibido
no aprender
|
A inibição propriamente dita
|
|
C
|
Aprender no
campo do impossível
|
A inibição propriamente dita
|
|
D
|
Participação
da família no aprender
|
A escola e sua interface com a família
|
|
E
|
Bicho papão do
aluno
|
A inibição propriamente dita
|
|
F
|
NARRATIVA
|
Leitura das
letras da escola
|
A inibição propriamente dita
|
G
|
Fuxico de aluno
|
O aluno no lugar de fuxico
|
|
H
|
Sim e Não na presença da família
|
A escola e sua interface com a família
|
|
I
|
ENTREVISTA
|
Aluno Inibido:
sinônimo de retraído
|
A inibição propriamente dita
|
J
|
Inibição e
dificuldade instrumental
|
A inibição propriamente dita
|
Tabela 2 – Triangulação dos achados coletados nas
observações, narrativas e entrevistas.
A emergência das falas a partir do uso dos instrumentos permitiu
articular as categorias descritivas iniciais, que foram extraídas de cada um
deles, e passaram a se conectar numa cosmo-visão a qual tenta-se explorar em
detalhe. Embora os pontos de vista apresentados reflitam os resíduos ou as
memórias da conversação, a construção do enlace por parte do pesquisador é que
permitirá a tessitura do que foi apreendido. Aqui me permito à
interdisciplinaridade teórica e remeto a topologia lacaniana do Nó Borromeu que outrora foi referido.
Se considerarmos que na estrutura borromeica
a consistência afetada pelo imaginário de um buraco fundamental resulta do
simbólico e de uma existência que pertence ao real (Dor, 1989) o enlace deles
pode ser comparado ao enlace dos dados no qual o simbólico seria a fala dos
sujeitos, o imaginário seria a análise do discurso feita pelo pesquisador e o
real seria o que escapa de ser apreendido por estar na incompletude estrutural,
na falta.
FUXICOS MULTICORES NUMA ARTE QUASE-FINAL
A partir da perspectiva
teórica psicanalítica distinguiu-se introdutoriamente sobre as terminologias
dificuldade, fracasso e inibição dando-se enfoque a esta última conforme fora
trazida por Freud no texto Inibição, Sintoma e Ansiedade (1926 [1925]). Percebendo-se,
desta maneira, a inibição na relação com o trabalho intelectual e ainda
aquiesça a forma sublimada de se obter satisfação mediante um desvio pulsional
utilizou-se também o olhar sob prisma da contribuição lacaniana que versa no
que tange esta percepção terminológica acerca da consideração da mesma pela via
da constituição do sujeito do desejo e da categoria inibição passando a um
efeito da estrutura do ser falante inerente à própria organização dos objetos
pulsionais.
Diante disso ainda foram
trazidas as problematizações que visam ampliar o olhar e a articulação com
teorias que sustentam uma nova perspectiva do aluno num tom contemporâneo e foi
apresentada para isso a possibilidade do atravessamento da psicanálise à
educação como um novo estilo. A constituição do sujeito na aprendizagem e a
inibição no ato de aprender foram metaforicamente expostas fazendo alusão ao
alinhavo do fuxico que parece ter sido feito borromeico no que tange o papel da família nesta estruturação e a
interface também do professor frente tal estrutura.
Penso ainda que destarte
tratar da inibição propriamente dita, que os achados quanto o aluno ocupar o
lugar de fuxico e quanto à importância da interface escola-família marcam os
sentidos por mim apreendidos nesta pesquisa.
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MRECH, Leny Magalhães. Psicanálise e Educação - Novos Operadores de Leitura. São Paulo:
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2003.
ROUDINESCO,
Elizabeth & PLON, Michael. Dicionário
da psicanálise. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1998.
SOARES, Jacy Célia da Franca. Psicanálise e Educação: novas aproximações num tempo de mutações.
Revista da FACED, n° 08, 2004, p. 195 – 207.
[1] O presente texto trata-se de um
recorte da dissertação de mestrado da autora a qual se encontra disponível na
íntegra para consulta no site: http://www.cdi.uneb.br/paginas/dissertacoes.html
[2] Aqui me refiro
à construção lacaniana “nó borromeu” de 1972, no qual três círculos de cordão são atados de forma que se
cortarmos qualquer um deles desfaz a junção com os outros dois círculos. Estes
círculos trazem a representação das três categorias (Real-Simbólico-Imaginário)
as quais de acordo com Lacan devem ser mantidas juntas. Cf.
Roudisnesco&Plon, 1998, p.541.
[3] Significante –
termo introduzido por Ferdinand de Saussure no quadro de sua teoria estrutural
da língua retomado por Lacan como um conceito central em seu sistema de
pensamento sendo o significante o elemento significativo do discurso
(consciente ou inconsciente) que determina os atos, as palavras e o destino do
sujeito, à sua revelia e à maneira de uma nomeação simbólica. (Cf. ROUDINESCO,
1998, p. 708)
[4] Outro – Termo
utilizado por Lacan para designar lugar simbólico – o significante, a lei, a
linguagem, o inconsciente – que determina o sujeito, ora de maneira externa a
ele, ora de maneira intra-subjetiva em sua relação com o desejo. (Cf.
ROUDINESCO, 1998, p.558)
[5] Tema que
estamos discutindo nos grupos de estudos e nos colóquios da linha de
Psicanálise e Educação do Grupo de Estudos e Pesquisa
em Psicanálise, Educação e Representação Social (Geppe-rs)
[6] Termo usado por Lacan no Seminário
de 17 de dezembro de 1974 para referir-se ao texto de Freud Inibição, Sintoma e
Angústia.
[7] Utilizei a
categoria “parda” referindo o que foi dito pelos sujeitos da pesquisa.
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