Quinta será dia de fuxicar sobre "Psicologia Organizacional" já que é dia de dar aula sobre o tema!
Pensar sobre esta perspectiva me fez perceber um cambiar entre educação e psicologia mesmo nesta especificidade da organização e do trabalho.
Nas pesquisas que venho fazendo inclusive achei autores que usam a psicanálise como arcabouço teórico da psicologia organizacional ... Irei me aprofundar melhor sobre isso e em outro post falo melhor ...
Milla
Psicólogo organizacional: aplicador de técnicas e procedimentos ou
agente de mudanças e de intervenção nos processos decisórios organizacionais?
Beatriz Marcondes de AzevedoI; Sílvio Paulo BoloméII
IMestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal
de Santa Catarina (biabizzy@ig.com.br)
IIDoutor em Psicologia. Professor do Departamento de Psicologia da
Universidade Federal de Santa Catarina (botome@cfh.ufsc.br)
A preocupação com a formação acadêmica e com a atuação profissional do
psicólogo brasileiro já existe há várias décadas. Desde 1954, quando foi
publicado o trabalho de Castilho e Cabral (Problemas da formação de
psicólogos), passando pelo trabalho de Sylvia Leser de Mello (Psicologia e
profissão em São Paulo, 1975) e por múltiplos trabalhos dos Conselhos Regionais
e Federal de Psicologia e dos sindicatos da categoria nas duas décadas
seguintes. A multiplicidade de trabalhos publicados nas últimas cinco décadas
atestam, no conjunto, a preocupação com a formação do psicólogo no Brasil.
Entretanto, a maioria desses estudos considerou a formação e a atuação
profissional do psicólogo. A preocupação com a psicologia organizacional e com
o psicólogo organizacional esteve mais característica e especificamente
presente em trabalhos de alguns profissionais: Néri (1978), Malvezzi (1979),
Codo (1985), Gaivão (1987), Gomes (1988), Bastos (1990), Borges-Andrade (1990)
e Zanelli (1994). Dentre esses trabalhos, o livro de Zanelli elaborado a partir
de sua tese de doutorado2, apresenta vários e
importantes questionamentos acerca da formação e atuação do psicólogo
organizacional no Brasil.
Durante o processo de realização do trabalho de pesquisa que dá suporte
ao texto, o autor teve como objetivo a identificação e análise das necessidades
derivadas das atividades de trabalho do psicólogo organizacional brasileiro e
suas inter-relações com a formação profissional, além das condições e
implicações das referidas necessidades. A pesquisa foi caracterizada como de
caráter exploratório e descritivo. Participaram sete profissionais considerados expertsna
área, por meio de entrevistas realizadas até o assunto ser considerado
"esgotado". A descrição e interpretação das informações dos discursos
obtidos foram apresentadas em nove conjuntos: 1) processo de ensino, 2)
conhecimentos e habilidades, 3) método científico, 4) abordagens e teoria,
5)instrumentos e procedimentos, 6) atuação, 7) identidade e Imagem, 8) ambiente
das organizações e 9) crítica e a competência profissional.
Quanto aos resultados da pesquisa, como um panorama geral das
informações obtidas, a atuação dos psicólogos dentro das organizações é marcada
pelo caráter técnico-operacional que, por sua vez, acaba tendo como decorrência
um fraco poder no seu exercício profissional. Devido à deficiente formação
básica da profissâo, muitas vezes encontram-se mal preparados, até mesmo para o
desempenho dessas atividades de cunho técnico-operacional (seleção e
recrutamento, treinamento, análise de cargo e salário, avaliação de desempenho
etc). Pior aindaquando se trata de ampliar a possibilidade de sua atuação,
realizando atividades ditas emergentes (elaboração de políticas de recursos
humanos, planejamento estratégico, desenvolvimento de carreiras e planos de
sucessão, desenvolvimento de equipes, análise e mudança da cultura
organizacional, programas de qualidade de vida e qualidade total etc).
O processo de formação acadêmica dos psicólogos é caracterizado pelo
modelo médico, pois ocorre um considerável direcionamento para a área clínica e
problemas de patologia e uma tendência de 'psicologização' dos fenômenos. Uma
explicação focalizada em fatores individuais internos, negligenciando outros
fatores que também estão presentes, como, por exemplo fatores sócio-ambientais
e evolutivos. Além disso, o processo de formação é caracterizado pelo caráter
generalista, descontextualizado e sem articulações, tanto entre os diversos
tipos de conhecimentos estudados, como entre as teorias apresentadas no curso e
as práticas profissionais necessárias, importantes ou até mesmo existentes.
Outro problema indicado é a pouca atenção que tem sido dada à prática da
pesquisa no decorrer dos cursos de graduação como um recurso para aprender a
aprender, aprender a pensar e aprender a conhecer, aptidões importantes para um
bom exercício profissional. A prática da pesquisa é essencial na formação
profissional, uma vez que centra sua importância na possibilidade de tomar
contato com a realidade e criar o hábito de pensar criticamente sobre os
fenômenos, compreender e apreender as múltiplas variáveis envolvidas nesse
contexto. Além disso, ao aprender a trabalhar cientificamente, com recursos de
informação e de metodologia como sustentação de sua atuação, o psicólogo é
capaz de escolher o método mais adequado para obter dados e transformá-los em
informações úteis para alterar ou otimizar as situações com as quais se
defronta como profissional.
As constantes e velozes mudanças que as organizações e as sociedades
sofreram, principalmente no final do século XX, têm exigido dos psicólogos
organizacionais uma disposição estratégica, uma capacidade de gerenciamento de
pessoas, de facilitadores de mudanças, bem como de promotores de melhor
qualidade de vida. A demanda que se apresenta na transição do século XX para o
XXI está muito mais relacionada com atividades emergentes e com necessidades
sociais do que com atividades tradicionais. O psicólogo organizacional não pode
mais continuar sendo um mero aplicador de técnicas, outrora aprendidas na
graduação, que possibilitam apenas lidar com o ser humano como um ser isolado,
dotado de deficiências e potencialidades. Ele precisa compreender ohomem como
um ser social, em constante interação com o meio, um ser que se constitui nas
relações que estabelece e nas atividades que executa. E isso, além de um verniz
discursivo, parece distante de uma efetiva formação dos psicólogos nos cursos
de graduação em geral, acarretando vários problemas e dificuldades para o
exercício profissional.
O psicólogo organizacional brasileiro está distante da função de agente
de transformação. Ao ser considerado como um agente de mudanças, sua prática
deveria levar em consideração as complexidades dos fenõmenos psicológicos e
organizacionais e resultar em uma ação transformadora. Segundo o trabalho de
Zanelli (1994), o psicólogo como agente de mudanças "deve estar preparado
para discutir o referencial científico-metodológico que sustenta sua prática e
os resultados que obtém, mas preparado também para discutir os valores que sustentam
diferentes direcionamentos do trabalho" (p. 184).
No seio das organizações, as funções gerenciais e estratégicas estão
sendo exercidas, muitas vezes, por profissionais competentes e não apenas por
aqueles que possuem formação acadêmica específica que os habilite para tal
exercício. É justamente pela deficiente formação, pela identidade profissional
sem consolidação e pela falta de determinadas competências e habilidades, que o
psicólogo vem perdendo oportunidades para demonstrar e tornar conhecido seu
papel, suas possibilidades de contribuição e sua importância dentro das
organizações. Sem fazer isso, o psicólogo deixará de construir possibilidades
de trabalho que estão sendo realizadas por profissionais de outros campos de
atuação como administradores, engenheiros, economistas e pedagogos. Zanelli
ainda considera que "o profissional que se pretende não é aquele que vai
ajustar-se mecanicamente às necessidades do mercado, mas um profissional capaz
de reestabelecer as condições que o mercado oferece, utilizando competentemente
os espaços que lhe são oferecidos" (1994, p.16).
Nesse sentido, o autor faz recomendações prospectivas: o psicólogo
organizacional precisa tornar conhecidas suas contribuições, fazer conexões
interdisciplinares de suas atividades e posicionar-se de maneira que os outros
profissionais compreendam e valorizem sua prática. Zanelli também sugere que a
formação profissional do psicólogo organizacional seja repensada para que ela
possa realmente cumprir o objetivo de fornecer parâmetros para identificação,
análise e interpretação dos fenômenos humanos e organizacionais,de maneira a
promover uma apreensão crítica do contexto das organizações. Configura-se
assim, a necessidade de mudanças curriculares e de aumento da oferta de cursos
para a formação específica na área de Psicologia Organizacional.
O livro de José Carlos Zanelli "O psicólogo nas organizações de
trabalho: formação e atividades profissionais" é de interesse de quem,
pela atuação profissional, técnica, docente ou de pesquisa, necessita de uma
compreensão mais clara a respeito da formação e das possibilidades de atuação
do psicólogo organizacional. O texto, além de trazer muitas contribuições para
essa compreensão, é acessível, possibilitando também um bom aproveitamento para
estudantes de Psicologia.
Referências
BASTOS, A. V. B . Mercado de trabalho: uma velha questão e novos dados. Psicologia,
Ciência e Profissão,10 (2,3,4), 28-39, 1990.
BORGES-ANDRADE, J. E. A avaliação da profissão, segundo os psicólogos da
área organizacional. Psicologia, Ciência e Profissão,1, 19-23,
1990.
CASTILHO, A & CABRAL, M. Problemas da formação de psicólogos. Boletim
de Psicologia, V/VI (18,19,20), 60-63, 1954.
CODO, W. O papel do psicólogo na organização industrial (notas sobre o
lobo mau em Psicologia). Em: Psicologia Social: o homem em movimento.São
Paulo: Ed. Brasiliense, 1985.
GALVÃO, A. H. C. Um espaço a ser conquistado pelo psicólogo
organizacional. Anais da VIII Reunião da Sociedade de Psicologia de
Ribeirão Preto, 1987.
GOMES, W. B. Proposta para sistematização e divulgação da pesquisa e
prática psicológica em revistas especializadas no Brasil. Anais da VIII
Reunião da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto, 1988.
MALVEZZI, S. O papel dos psicólogos profissionais de recursos
humanos - um estudo na Grande São Paulo.Dissertação de Mestrado. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo: 1979.
MELLO, S. L. Psicologia e profissão em São Paulo. São Paulo: Ática,
1975.
NÉRI, A. A. Formação em Psicologia do Trabalho. Anais da VIII
Reunião da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto, 1978.
ZANELLI, J. C. O psicólogo nas organizações de trabalho:
formação e atividades profissionais.Florianópolis: Paralelo 27, 1994.
1 Resenha do livro de J.C. Zanelli, O Psicólogo
na organizações de trabalho: formação e atividades profissionais.Publicado
em 1994 pela Editora Paralelo 27, com 208 páginas.
2 "Formação Profissional e Atividades de Trabalho: análise das necessidades identificadas por psicólogos organizacionais". Unicamp, 1992.
2 "Formação Profissional e Atividades de Trabalho: análise das necessidades identificadas por psicólogos organizacionais". Unicamp, 1992.
AZEVEDO, Beatriz Marcondes de; BOLOME, Sílvio Paulo. Psicólogo
organizacional: aplicador de técnicas e procedimentos ou agente de mudanças e
de intervenção nos processos decisórios organizacionais?. Rev.
Psicol., Organ. Trab.,
Florianópolis, v. 1, n. 1, jun. 2001 . Disponível
em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-66572001000100008&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 22 fev. 2013.
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