Oi pessoal,
Hoje este post traz um pouco
da minha experiência na clínica.
Pelo fato de ser Psicóloga com
especialização em Psicopedagogia, as demandas que chegam para atendimento são
desde questões de indisciplina escolar, dificuldades de aprendizagem, até
questões comportamentais, emocionais e familiares além daquelas referentes às
deficiências.
Ultimamente constato entretanto que houve um aumento na
procura por avaliação/atendimento clínico por parte de pais de adolescentes que
de alguma maneira encontram-se perdidos no que fazer com os filhos ao
descobrirem que estes fazem uso de algum tipo de droga.
Corroborando
com o escrito de Ana Laura Giongo
cabe esclarecer que:
"
[...] na psicanálise não tomamos a adolescência como uma etapa cronológica, ou
uma fase do desenvolvimento, mas sim como uma operação psíquica na qual
entrarão em cena processos constitutivos do sujeito". http://www.projetos.unijui.edu.br/clinica/informativos/24/ensaio.html
Buscando neste sentido me instrumentalizar
tecnicamente estou lendo - dentre tantas
outras coisas que leio ao mesmo tempo (rs) - o livro O Adolescente e o psicanalista, do autor Jean-Jacques
Rassial.
Neste livro, o capítulo III intitulado "O
Adolescente e a Droga" apresenta uma diferenciação acerca do que podemos
considerar toxicomania e "uso recreativo da droga" que o autor chama de
“usuário ocasional”. Sobre isso acho importante distinguir estes dois conceitos,
pois podemos neste ultimo caso (“usuário ocasional”) tomar a droga como “um dos
avatares do objeto transicional” considerando a definição winnicottiana. Ou
seja, o adolescente que experimenta a droga hoje efetua experiências possíveis
para fazer laço social.
Especialmente em se tratando do uso da cannabis (maconha) a leitura do texto
ratifica o meu pensar quanto ao uso de drogas entre os adolescentes ser uma
questão de pertencer a um grupo estando todos numa fase de experimentação.
Lógico que não iremos destituir o lugar de lei e ordem que a díade parental
deve ocupar. Mas é importante compreender a adolescência como "a idade das
experiências, no sentido forte: tentar, experimentalmente, reconstruir um mundo
cuja lógica é posta em causa". (Rassial, 1999, p. 97)
Pensar o uso das drogas pelo adolescente “usuário
ocasional” apenas como fenômeno ilícito penso que não nos leva lugar algum.
Compreender a problemática da adolescência em suas diversas manifestações
patológica é entender a droga como significante ou a droga como objeto. No
primeiro caso a droga seria uma metáfora, usada no lugar de algo que não pode
talvez, ser dito e serve na tentativa de preencher uma falta. Já a droga
enquanto objeto é vivida mais como “um instrumento, um utensílio que, por meio
das alucinações produzidas, teria que repara o que os defeitos de toda imagem
do Outro mostra”. (Rassial, 1999, p. 103)
Lembremos que a adolescência é marcada pelo luto
dos objetos da infância e pela metamorfose da imagem especular. Pais são
questionados nesta época e bom mesmo é o pai do vizinho que deixa tudo. Não
vale aí banalizar o uso da droga, mas também não vale inquietar-se além da
conta. A droga que passa a fazer função de novo objeto transicional rapidamente
deixará de fazer quando da organização da vida psíquica. Caso não haja este
passe aí sim, passaremos a considerar a toxicomania que caracteriza-se por uma
fixação.
No dizer de Rassial (1999, p. 115) “O toxicômano,
confundindo objeto da demanda e objeto do desejo, põe então o desejo em falta.
Quando ‘a demanda se desgarra da realidade’, o toxicômano tenta rearticular a
demanda em torno de uma nova necessidade; ele evita assim o desejo, na medida em
que este se sustenta numa falta do lado do objeto e numa divisão do lado do
sujeito”.
Enfim, as inquietações que o uso de drogas causa nos pais,
na clínica necessita ser vista sob o prisma da singularidade da estrutura do
sujeito.
Referência:
Rassial, Jean-Jacques. O adolescente e o psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia
de Freud, 1999
213 págs., 16X23 cm, BROCHURA
ISBN: 85-85717-23-8
Segmento: PSICANÁLISE
Tradução: LÊDA MARIZA FISCHER BERNARDINO
ISBN: 85-85717-23-8
Segmento: PSICANÁLISE
Tradução: LÊDA MARIZA FISCHER BERNARDINO
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