terça-feira, 1 de julho de 2014

Um Fuxico sobre: Copa, Complexo de Vira Lata e Educação




Copa, Complexo de Vira Lata e Educação


Estava no domingo assistindo ao Programa Canal Livre e me interessei mais quando vi que o antropólogo Roberto Damatta ia falar sobre futebol. De fato que, em tempos de Copa do Mundo, esse está sendo o assunto principal em todos os cantos do país.

Em meio às várias colocações interessantes e histórico-antropológicas capturei o pensar sobre "complexo de vira lata". 

Este foi um termo cunhado pelo grande Nélson Rodrigues (A Pátria em Chuteiras), em 1950, ano também de Copa do Mundo no qual o Brasil perdeu a final, em pleno Maracanã, para o Uruguai. Este termo, após o episódio futebolístico acabou por se generalizar na vida cotidiana para demarcar um 'sentimento de inferioridade' que parece existir no nosso povo, o qual tem a sua história constituída socialmente num processo de colonização. 

Frente a essa colonização "real" parece haver uma colonização simbólica que reina na apologia ao estrangeiro. Na atualidade sinto isso também na área educacional e aqui queria pensar um pouco no fenômeno educacional em termos de pós graduação.

Faz cerca de dois anos que concluí o Mestrado numa Universidade Pública do Estado da Bahia e lá passei por um processo seletivo etc etc até conseguir "a vaga" ... Foram dois anos de dedicação à pesquisa, publicações, idas a congressos e cumprindo créditos de disciplinas. O grau de Mestre me habilitou ministrar aulas em pós graduações mas o que vi em dois anos foi um boom de pessoas que desejam o tal "mestrado" não apenas pelo compromisso de pesquisa mas pelo acréscimo salarial que isso vem a ter.

E quem me lê neste momento deve perguntar: e onde está a parte do complexo de vira lata?. Pois que te respondo caro fuxiqueiro, ele está explicitado na possibilidade de acesso ao ensino superior em outros países e nas possíveis (ou não) convalidações de diplomas aqui no Brasil. Mas isso pouco importa pois, na realidade o que tenho visto é que basta ser do "além das fronteiras" que passa a ter um valor maior do que os diplomas nacionais.

Este fato me incomoda ... não destituo que fora do Brasil temos instituições especialmente na área de tecnologia que promovem coisas de maior qualidade. Mas, deixo a inquietante pergunta se: necessariamente maior qualidade institucional é sinônimo de melhor formação profissional?

Sabemos que pesquisadores brasileiros apesar de todas as limitações que encontram na qualidade institucional e nos financiamentos encamparam pesquisas universitárias para desvendar o genoma. Outros ainda imbuídos do seu doutorado propuseram a tese - que foi comprovada - quanto a possibilidade de uso de células tronco em pacientes com doença de chagas e estes projetos de pós graduação são genuinamente nacionais. 

Assim, o que desejo é que - especialmente no mestrado e doutorado em educação - os brasileiros não busquem apenas o produto importado que por vezes não é de qualidade ou não fala da nossa peculiaridade e da nossa brasilidade. 
Afinal, nem tudo que vem de fora tem pedigree !!!

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