quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Hoje é dia de Fuxicar sobre Educação Infantil


Oiê ...


Bem, pelo fato de ser professora de um dos componentes da Especialização em Docência da Educação Infantil (MEC/Ufba) e ainda por neste mesmo curso ter orientandas de TCC's - carinhosamente chamadas de "minhas meninas"- passarei aqui de vez em quando para trazer um pouquinho de teoria acerca desta modalidade da educação - a Educação Infantil.

Hoje queria compartilhar um texto de Ana Paula Conceição pessoa singular por quem eu tenho um carinho enorme e de quem fui aluna e agora compartilho momentos outros de aprendizagem nesta itinerância acadêmica.

O texto esta disponível no site ANPED e segue abaixo para que possamos ampliar o pensar acerca de ludicidade, educação infantil e currículo.


CURRICULUM PLENNIS LUDENS? UM ESTUDO CRÍTICO – 
COMPREENSIVO E PROPOSITIVO SOBRE A POLÍTICA DE LUDICIDADE 
NO CURRÍCULO DE EDUCAÇÃO INFANTIL, A PARTIR DO CONTEXTO DE 
UMA ESCOLA PÚBLICA EM SALVADOR - BA. 

CONCEIÇÃO, Ana Paula Silva da - Universidade Federal da Bahia
GT: Educação da Criança de 0 a 6 anos / n. 07



“ Precisamos conhecer os seres e os momentos a fim de criar o currículo”. 
 Willian Doll. 

Os últimos anos têm sido marcados em nosso país por uma vigorosa reflexão crítica sobre a construção de uma educação democrática, cujo currículo e cuja prática pedagógica levem em conta a heterogeneidade de cultura e classes sociais e promovam o desenvolvimento das crianças na plenitude das suas múltiplas expressões lúdicas. Ademais, numa sociedade prometêica, de densas experiências autoritárias e de um viés 
tecnicista histórico, como a expressão lúdica pode estar sendo vivenciada numa escola que se constitui nesses moldes, muitas nos moldes de uma mercoescola? Como seria um currículo que ao vivenciar a ludicidade se constituiria num “texto provisório” (Arroyo, 2000), constituído na dança das interações e errância das experiências cognitivas e do gozo compartilhado? 

Entendemos que a educação de crianças deverá pautar-se sobretudo, em uma prática que permitirá ás crianças a reelaboração do mundo e do conhecimento sobre o mundo, como a possibilidade de autonomia e curiosidade sobre as coisas que lhes vão sendo apresentadas pelo mundo adulto, os objetos, os animais, a história, a cultura, a cultura letrada, etc... 

Dessa Forma, planejar o currículo em educação infantil implica ouvir os profissionais em suas concepções e decisões, problematizar a visão deles sobre a creche e a pré-escola, evitando perspectivas fragmentadas e contraditórias, que vivenciaram ou com que tiveram contato. Implica reconhecer as famílias como interlocutoras, parceiras privilegiadas e garantir a participação delas e da comunidade no processo, tarefas que exigem a superação de muitos obstáculos. 

A ludicidade é um fazer humano mais amplo, que se relaciona não apenas á presença das brincadeiras ou jogos, mas também a um sentimento, atitude do sujeito envolvido na ação, que se refere a um prazer de celebração em função do envolvimento genuíno com a atividade, a sensação de plenitude que acompanha as coisas significativas e verdadeiras (Luckesi, 2000,52) 

Fazer presente o brincar e o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensino – aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação, ação ativa e motivadora. 

Compartilhamos de uma preocupação que se os projetos curriculares têm por finalidade ajudar as novas gerações a compreender o mundo, podemos dizer que devem compartilhar essa finalidade com o mundo dos jogos e das brincadeiras. Assim, como existe uma preocupação em vigiar os conteúdos culturais dos programas e livro-texto com os quais as crianças entram em contato, deveria existir também, uma atenção 
idêntica à análise dos jogos e brinquedos que se comercializam no mercado. 

Por acreditarmos que a realidade é movente e pulsante, creio que podemos construir nas escolas novos currículos que englobem o homo faber, homo sapiens, mas também o homo ludens, o homo demens. Somente quando isso acontecer, estaremos viabilizando, como nos fala Morin (2000:11) “ uma educação integral do ser humano, uma educação que dirige à totalidade aberta do ser humano e não apenas a um de seus componentes.” A escola deve repensar seus objetivos, sua visão de mundo, buscando um ponto de 
equilíbrio entre futuro/ presente, trabalho/lazer, razão/emoção, priorizando também outras formas de saber (o tato, os sons, o corpo, a linguagem, o olhar, o pensamento humano, a dança, atenção, etc.), além de um pensamento multireferencial que se harmonize com a complexidade do ser humano. 

É necessário, pois, que os responsáveis pela educação dos educadores conscientizem-se de que a educação escolar é o lugar das múltiplas expressões e, juntamente com o lúdico, edifiquem a vida no sentido da sua plenitude. É assim que a pertinência desta temática se constitui a partir das inquietações e dos questionamentos que configuram esta proposta de pesquisa, pautada numa pré-ocupação que dá corpo a todo estudo, que tem como objetivo geral: através de uma abordagem em Etnopesquisa crítica, estudar / refletir as políticas de sentido da ludicidade, tomando como campo de investigação o currículo e sua dinamogênese em educação infantil de uma escola do sistema público. Nesses termos os objetivos específicos são: 

• Explicitar os principais pressupostos filosóficos, teóricos e epistemológicos da políticas de sentido da ludicidade vivenciadas no currículo estudado. 
• Compreender como se estruturam as práticas pedagógicas levando em consideração o aspeto lúdico nos diversos componentes curriculares. 
• Perceber que sentidos e significados são atribuídos ao lúdico pelos atores / atrizes, autores / autoras, educativos envolvidos na constituição cotidiana do currículo.
• Tomando como referência as conclusões do estudo de uma perspectiva relacional, propor indicativos de políticas curriculares envolvendo a ludicidade na educação infantil, levando em consideração as tensões teóricas implicadas, o contexto sócioeconômico, cultural e histórico onde se inserem as experiências com o lúdico no currículo investigado. 
• Contrastar, as práticas e políticas de sentido da ludicidade refletida no estudo, a partir das suas atualizações no currículo das escolas públicas.. 

Nesse veio, segundo Macedo (apud Burnham, 1998, p.37) : 

O currículo significa um dos principais processo, na medida em que aí interage um coletivo de sujeitos-alunos e sujeitos-professores, além de outros que não diretamente ligados á relação formal de ensinar-aprender. Nesta interação, mediada por uma pluralidade de linguagens verbais, imagéticas, míticas, rituais, mímicas, gráficas, musicais, plásticas,... (de referência de leitura de mundo)... transformam essa realidade num processo multiplamente cíclico que contêm, em si próprio, tanto a face da continuidade como a construção do novo.

Então, nesse sentido, trata-se de extrair da vida real da criança e dos seus diversos mundo (o da família, o dos amigos, o da comunidade, o da fantasia etc.) os currículos e os programas de estudo. Assim, faz-se necessário desenvolver educadores relacionais, capazes de tomar como centro do processo educativo, não a palavra e o saber magistral, mas todas as atividades e vivência da criança, seus processos de descobrimentos, socialização e singularização. 

Quanto ao método opcionado, é preciso acrescentar que estudar o currículo da perspectiva de não política de ludicidade, pressupõe uma visão multirreferencial e complexa dos fenômenos educacionais e uma cumplicidade compreensiva no estudo com os sujeitos da pesquisa. Nesse sentido consideramos a Etnopesquisa crítica como uma opção de método pertinente e relevante. Assim é que Macedo (2002), inspirado nesses princípios acrescenta:

no processo de construção do saber científico a etnopesquisa não considera os sujeitos do estudo um produto descartável de valor meramente utilitarista. Entende como incontornável a necessidade de constituir juntos, traz irremediavelmente e interpretativamente a voz do ator social para o corpus 
empírico analisado e para a própria composição conclusiva do estudo, até  porque a linguagem assume aqui o papel constitutivo central; o ator social não fala pela boca da teoria ou de uma estrutura diaólica, ele é percebido como estruturante que em meio às estruturas, em muitos momentos, reflexivamente, o performa (p.28) 

Para melhor atuação no campo empírico e para alcançar as resposta e proposições de pesquisa, serão utilizados dentre outros métodos a observação participante, a entrevista aberta, o grupo focal, a utilização de filmagem e fotografias, análise de documentos e etc. Constituem assim, os recursos metodológicos de uma etnografia semiológica, coerente com os pressupostos da etnopesquisa, pautados comumente em buscar 
informações sociais, culturalmente enraizadas e relacionais, constituintes de uma ciência do instituinte social e cultural da ações humanas e suas instituições, seus sentidos e significados. Quanto ao processo de análise será utilizado a análise de conteúdo, pautada numa hermenêutica fenomenológica e crítica como elaboram, aliás, as bases das metodologias qualitativas. 

Assim, à medida em que a pesquisa for se desenvolvendo buscaremos reconhecer a pertinência e a relevância das abordagens disponíveis. Consideramos que esta pesquisa “Curriculum Plennis Ludens?” contribuirá para aprofundar o conhecimento acerca de um dos maiores desafios da escola e da sala de 
aula, que é a construção de uma educação democrática cujo currículo e cuja prática pedagógica levem em conta a heterogeneidade de cultura e classes sociais e promovam principalmente, pelas possibilidades que a Etnopesquisa Crítica traz no processo de construção do saber científico, onde a voz do ator social evidencia-se no corpus empírico analisado e na própria composição conclusiva de uma escola sensível e 
rigorosa, comprometida, com uma educação integral, progressista e crítica da sociedade em que vivemos. 
Nessa perspectiva é preciso compreender o currículo como uma narrativa que apoia e complementa, mas que jamais substitui o trabalho criativo de professores, e alunos. 

Assim, o currículo não pode ser visto apenas como um conhecimento pré – concebido que define conteúdos e estratégias metodológicas meramente executados por professores e alunos. “A prática pedagógica, é entendida como prática social viva e ativa, confirma, nega, acrescenta e reduz aspectos e temas ao currículo, que é, dessa forma, instrumento constantemente avaliado”. (Kramer, 1989, p.16).

REFERÊNCIAS
ARROYO, M. Oficio de Mestre. Petrópolis: Vozes, 2000.
CANEN, Ana, (org.). Ênfases e omissões no currículo. Campinas, SP: Papirus, 2001.(Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
KRAMER, S. Com a pré escola nas mãos. Uma alternativa curricular para educação infantil. São Paulo: Ática 1989.
LUCKESI, C. “Ludopedagogia: partilhando uma experiência e uma proposta”. In: Luckesi, C. Ludopedagogia Ensaios. Educação. Educação e Ludicidade. FACED/UFBA, 2000.
MACEDO, R. A Etnopesquisa Crítica e multirreferencial na Ciência Humana e na Educação. Salvador: EDUFBA, 2000.
__________. Chrysallís, currículo e complexidade: a perspectiva crítico – multirreferencial e o currículo contemporâneo. Salvador: EDUFBA, 2002.
MORIN, E. Saberes Globais Saberes Locais. O Olhar Transdisciplinar. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.
PORTO, Bernadete de Souza. “Que Caminho Devo Seguir? Alice procura uma Alfabetização Crítica e Lúdica...”. In: Revista da FACED / UFBA, nº 06, 2002.

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