quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Será mesmo Fantástico o que se diz sobre o Autismo?

Oiê ...


Tenho acompanhado de maneira sistemática o quadro do Fantástico apresentado pelo Drº Dráuzio Varela sobre Autismo. Constantemente venho sendo perguntada em diversos espaços o que estou achando e sempre digo que gostaria que outras informações fossem possíveis de ser dadas. Como a série ainda não acabou estou esperando por exemplo que ele fale da experiência da psicanálise na intervenção com tais sujeitos e por exemplo mostrar o trabalho do Lugar de Vida em São Paulo que atua sob esta perspectiva teórica.

A minha grande preocupação é que algumas pessoas me chegam com afirmações do tipo "que pena não tem jeito" ou ainda "nossa ele vai ser assim para sempre"... isso sim, é o que me preocupa...

Do que eu assisti não me senti confortável quanto ao enfoque e cristalização do sem jeito. Em nada esta perspectiva auxilia as famílias e o próprio autista. Aqui mesmo no blog no dia 18 de Junho http://fuxicandocommilla.blogspot.com.br/2013/06/autismo-e-psicanalise.html
publiquei um post sobre a Psicanálise e Autismo no qual trago muitas instituições que apoio outro olhar ...

Ficarei atenta aos próximos episódios e desde já compartilho um escrito do Psicanalista Alfredo Jerusalinsky. 
ACERCA DO AUTISMO NO FANTÁSTICO
O difundido até agora pela série dirigida por Drauzio Varella, no programa televisivo Fantástico, acerca do autismo constitui um ataque público contra os CAPS (porque de acordo com a lista os CAPS  ficam excluídos dos sistemas de tratamento), contra o SUS (porque ao dizer que nada funciona a proposta oculta é eliminá-lo), contra as intervenções precoces (porque se é incurável o momento da intervenção perde valor), contra os autistas que poderiam se curar se recebessem um tratamento que oferecesse a eles a chance de se constituírem como sujeitos (porque sendo incuráveis e doentes inatos - segundo o difundido pelo Drauzio Varella e seus escolhidos - só caberia treiná-los para que se acomodem às exigências familiares ou institucionais). Tudo isso mostra o caráter puramente político e anticientífico dessa difusão. É uma exibição de poder daquelas instituições que escolhem o pior caminho para os autistas: as que se equivocaram com a Sindrome de Asperger – que não existe mais segundo o DSM V -; as que produziram uma falsa epidemia de autismo e TDAH usando instrumentos diagnósticos inspirados no DSM IV; as que levaram a invalidar pesquisas genéticas potencialmente valiosas porque os métodos de diagnóstico por elas escolhidos criaram amostras heterogêneas e indefinidas; porque determinam antecipadamente para os bebês que apresentam riscos de autismo o uso de métodos “terapêuticos” que elas justificam e fundamentam na suposta incurabilidade generalizada de todos os autistas com o qual – pelas consequências da aplicação desses métodos – acabam precipitando o risco na efetivação do quadro autístico e, por acréscimo, criando condições reativas que conduzem para a incurabilidade; porque se sustentam no método diagnóstico proposto pelo DSM IV e pelo DSM V, que o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos de América deixou de usar pela baixa validade e pelos efeitos negativos de seu uso.
 O abuso de poder se configura, nesse caso, pela imposição de concepções unilaterais, pela ignorância e desconhecimento ativo de contribuições clínicas e psicanalíticas desenvolvidos internacionalmente nos últimos 70 anos (o autismo foi descrito em 1943), pela ostensiva tentativa de deixar fora da demanda e do conhecimento públicos as instituições (CAPS) que se ocupam comunitariamente das terapias do autismo nos mais diversos cantos do pais e as quais o conjunto da população têm mais imediato e gratuito acesso.

A dor e o sofrimento não justificam – nem inconscientemente - o abuso de poder, simplesmente porque tal abuso somente se torna necessário quando os atos não estão inspirados pela razão. Nesse caso tais atos somente podem produzir mais sofrimento.
Alfredo Jerusalinsky.

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