domingo, 30 de dezembro de 2012

O (des)encanto inclusivo

Oiê ...

Mais uma vez estou por aqui para Fuxicar ... Hoje publico um texto escrito em um dia de fúria no ano de 2010 quando trabalhava em um Núcleo de Educação Inclusiva ... Diante do fato de não conseguir esbravejar, falar e ser escutada - Afinal meus amigos, não é fácil ter outro ponto de vista !!!! - então resolvi escrever sobre isso e compartilho com vocês as minhas inquietações ... Até porque em 2013 acredito e desejo que eu possa fazer tudo diferente!!!
 
Aguardo os comentários para que possamos alinhavar esta colcha!!!
 
 
O (des)encanto inclusivo

Ludmilla Lopes da Fonsêca[1]

Encanto, do Aurélio substantivo masculino que significa encantamento; feitiço; atração; coisa ou pessoa encantadora e muito atraente. Esse outrora foi o meu sentimento pela inclusão. Hoje penso escandir isso e, me (des)encontro e me (des)encanto.

Como crer numa inclusão[2] pregada e não operada? Assim, como uma Função Paterna que claudica, vejo o processo de inclusão e, mais uma vez me (des)encanto. Legislações novas são produzidas, apenas teoria [...] pessoas xiitas são enaltecidas e eu considerada às avessas... É uma castração que romperia com a ilusão de gozo pleno que não chega. É este elemento estrutural Nome do Pai que eu não enxergo. É a alienação completa. É a loucura no real, a psicose, ou quem sabe o fim...

De certo isso é o avesso afinal, o olhar da psicanálise é mesmo o avesso desta pedagogia posta. Não há casamento, não há possibilidade de meu encantamento, só há (des)encanto e (des)encontro. Mudança de foco, mudança de objeto. Outra meta, outra hora, outro momento. Um outro: o Mestrado. Estudar agora só a possibilidade de encontro entre psicanálise e educação para a inibição no ato de aprender. Estudar somente o (des)compasso afetivo de professor frente o aluno com inibição no ato de aprender[3]...nossa muito melhor e, com muito encanto [...]. Mostrar o quanto a escuta da psicanálise enamorada pela educação pode ceder ao educador possibilidade de outra ação. Agora me (re)encanto e, me (re)encontro. Não adianta mais, o divórcio foi consumado e, eu me (des)incluo ao menos teoricamente. Não me quero nesta inclusão, deste jeito.

A deficiência está ampliada não apenas nas crianças (des)eficientes, mas na falta de eficiência de aplicação, na falta de formação inicial que, de fato, forme. O que há é (con)formação, é inoperância, é um claudicar. É uma rede simbiótica de mãe e filho que não tem terceiro. Até querem que ele opere, mas ele não existe. Esse pai se ausentou, se foi [...] e, o Édipo não pode ser resolvido. A metáfora não poderá ser operada. A fita de Möebius se desfaz, se rompe, o véu se desvela.

Vivo, ou melhor (con)vivo. Até quando conseguir [...] Falar, e ver ressoar que é preciso redimensionar que é preciso mudar. Deixar de domesticalizar relações, deixar de virtualizar e colocar em prática o que a academia estuda e, propõe. Um novo estilo.

Neste novo estilo faço bordas, busco bordas, ou melhor, busco um vento à boreste que infle minha vela e me leve além mar onde eu possa construir, onde eu possa ampliar onde eu possa ao pôr do sol costurar e, continuar minha colcha de retalhos.

Haroldo de Campos (apud Mello[4]),

“em um artigo onde aborda esta questão, lembra que a palavra estilo, que em francês é style, e stylo, que significa lapiseira, caneta nesta língua, vêm da mesma palavra latina stilus, que tem o sentido de instrumento pontiagudo, de metal ou osso, com o qual se escrevia nas tábuas enceradas. Ele recorda ainda que a afinidade entre as palavras está conservada em português pelo termo diminutivo estilete que, como sabemos, refere-se a um punhal e sugere que ‘foi por um passe metonímico – por um transpasse de significantes – que o instrumento manual da escritura passou a designar a marca escritural mesma: o estilo.’”

Por isso, o meu (des)encanto inclusivo e o meu encanto regular e, em tempo integral. Por isso, Mais Educação[5][...]simplesmente por isso. Por isso, esse novo estilo.

Como bem coloca Ornellas[6] “o sujeito nasce da trama desejante, marcado pela falta e pela plenitude. E essa identificação com o outro contribui para sua constituição.” E, me constituo neste Outro, e ainda neste outro projeto que me inspira e me faz respirar. Nas pesquisas que se iniciam e, que como uma árvore frondosa darão sombra e frutos doces...às vezes também darão frutos não tão doces, às vezes nem sombra darão...pouco importa...é a minha (in)completude.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, A. B. H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1977.
FREUD. S. Além do princípio do prazer. In: Obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD. S. Esboço de psicanálise. In: Obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD. S. O futuro de uma ilusão. In: Obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
KUPFER, M. C. Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo: Editora Scipione, 2004.
______. Educação para o futuro: psicanálise e educação. São Paulo: Escuta, 2007.
LACAN. J. Seminário 11 – Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
______. Seminário 20 - Mais Ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
LAPLANCHE E PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
ORNELLAS, M.L.S. Afetos manifestos na sala de aula. São Paulo: Annablume, 2009.
______. Estilo: marca que obtura a falta do outro. Texto apresentado no II Colóquio Estadual de Educação, UNEB. CD ROM.
SOARES, J. Psicanálise e Educação: novas aproximações num tempo de mutações. Revista da Faced, n° 08, 2004, p. 195 – 207.



[1] Psicóloga, Psicopedagoga, Técnica da Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer (SECULT); Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade - UNEB ; Pesquisadora do GEPE-RS (Grupo de Estudos em Psicanálise, Educação e Representação Social);  ludy_fonseca@yahoo.com.br
[2] Inclusão - aqui referida quanto a inclusão de alunos com deficiências em escolas regulares.
[3] Título inicial do meu projeto de pesquisa do mestrado que depois foi defendido sob o título: Inibição no fuxico de aprender, PPGEduC - Universidade do Estado da Bahia, 2012. 
[4] MELLO, Denise Maurano. Estilo e Gozo no Ensino e Transmissão da Psicanálise. Disponível em www.psicologiaonline.pro.br
[5] Em referência ao Programa do MEC que prevê escola de tempo integral o que vem sendo implantada em diversas cidades brasileiras.
[6] ORNELLAS, M.L.S. Estilo: marca que obtura a falta do outro. Texto apresentado no II Colóquio Estadual de Educação, UNEB. CD ROM.
 

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