quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Adolescência e uso de drogas



Oi pessoal,

Hoje este post traz um pouco da minha experiência na clínica.

 Aos poucos a atuação neste espaço vem se delineando na minha trajetória profissional.
 Pelo fato de ser Psicóloga com especialização em Psicopedagogia, as demandas que chegam para atendimento são desde questões de indisciplina escolar, dificuldades de aprendizagem, até questões comportamentais, emocionais e familiares além daquelas referentes às deficiências. 

Ultimamente constato entretanto que houve um aumento na procura por avaliação/atendimento clínico por parte de pais de adolescentes que de alguma maneira encontram-se perdidos no que fazer com os filhos ao descobrirem que estes fazem uso de algum tipo de droga.

Corroborando com o escrito de Ana Laura Giongo cabe esclarecer que:

" [...] na psicanálise não tomamos a adolescência como uma etapa cronológica, ou uma fase do desenvolvimento, mas sim como uma operação psíquica na qual entrarão em cena processos constitutivos do sujeito". http://www.projetos.unijui.edu.br/clinica/informativos/24/ensaio.html

 Diante disso, há que se (re)pensar sobre a clínica com adolescentes visto que:

 "o trabalho psíquico implicado na construção de novas referências imaginárias vai se fazer presente de forma constante na transferência com o adolescente. Seu discurso em análise vai estar marcado por uma necessidade de elaboração destas novas referências, ao relatar extensamente suas aventuras na relação com os semelhantes, os efeitos de sua imagem e sua palavra sobre os outros. Aos clínicos menos avisados, pode parecer, por vezes, que estamos escutando uma simples descrição infindável de cenas, de imagens, de detalhes pormenorizadas sobre roupas, adereços, festas, encontros... Isso que pode parecer um discurso “excessivamente imaginário”, precisa tomar um lugar de valor aos ouvidos do analista e no interior da análise, justamente por fazer parte da necessidade de reconstituição dos suportes imaginários para uma reconstrução da imagem do jovem sujeito, sendo esta uma das singularidades que as mudanças no Imaginário vão produzir na transferência". (idem)

Buscando neste sentido me instrumentalizar tecnicamente estou lendo - dentre tantas outras coisas que leio ao mesmo tempo (rs) - o livro O Adolescente e o psicanalista, do autor Jean-Jacques Rassial.

Neste livro, o capítulo III intitulado "O Adolescente e a Droga" apresenta uma diferenciação acerca do que podemos considerar toxicomania e "uso recreativo da droga" que o autor chama de “usuário ocasional”. Sobre isso acho importante distinguir estes dois conceitos, pois podemos neste ultimo caso (“usuário ocasional”) tomar a droga como “um dos avatares do objeto transicional” considerando a definição winnicottiana. Ou seja, o adolescente que experimenta a droga hoje efetua experiências possíveis para fazer laço social.  

Especialmente em se tratando do uso da cannabis (maconha) a leitura do texto ratifica o meu pensar quanto ao uso de drogas entre os adolescentes ser uma questão de pertencer a um grupo estando todos numa fase de experimentação. Lógico que não iremos destituir o lugar de lei e ordem que a díade parental deve ocupar. Mas é importante compreender a adolescência como "a idade das experiências, no sentido forte: tentar, experimentalmente, reconstruir um mundo cuja lógica é posta em causa". (Rassial, 1999, p. 97)

Pensar o uso das drogas pelo adolescente “usuário ocasional” apenas como fenômeno ilícito penso que não nos leva lugar algum. Compreender a problemática da adolescência em suas diversas manifestações patológica é entender a droga como significante ou a droga como objeto. No primeiro caso a droga seria uma metáfora, usada no lugar de algo que não pode talvez, ser dito e serve na tentativa de preencher uma falta. Já a droga enquanto objeto é vivida mais como “um instrumento, um utensílio que, por meio das alucinações produzidas, teria que repara o que os defeitos de toda imagem do Outro mostra”. (Rassial, 1999, p. 103) 

Lembremos que a adolescência é marcada pelo luto dos objetos da infância e pela metamorfose da imagem especular. Pais são questionados nesta época e bom mesmo é o pai do vizinho que deixa tudo. Não vale aí banalizar o uso da droga, mas também não vale inquietar-se além da conta. A droga que passa a fazer função de novo objeto transicional rapidamente deixará de fazer quando da organização da vida psíquica. Caso não haja este passe aí sim, passaremos a considerar a toxicomania que caracteriza-se por uma fixação.  

No dizer de Rassial (1999, p. 115) “O toxicômano, confundindo objeto da demanda e objeto do desejo, põe então o desejo em falta. Quando ‘a demanda se desgarra da realidade’, o toxicômano tenta rearticular a demanda em torno de uma nova necessidade; ele evita assim o desejo, na medida em que este se sustenta numa falta do lado do objeto e numa divisão do lado do sujeito”. 

Enfim, as inquietações que o uso de drogas causa nos pais, na clínica necessita ser vista sob o prisma da singularidade da estrutura do sujeito.  
Referência:
Rassial, Jean-Jacques. O adolescente e o psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999
213 págs., 16X23 cm, BROCHURA
ISBN: 85-85717-23-8
Segmento: PSICANÁLISE
Tradução: LÊDA MARIZA FISCHER BERNARDINO

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